Corte do Fed Não Empolga: Mercado Ignora o Alívio Monetário em Meio ao Esfriamento da IA
Mesmo após o Federal Reserve entregar o corte de juros esperado e adotar um discurso claramente mais dovish do que o mercado previa, os ativos dos EUA não compraram a narrativa do “risk-on”. O motivo é simples: o motor que sustentou o rali — a inteligência artificial — está perdendo tração. Avaliações esticadas, retorno lento sobre o CAPEX e dúvidas crescentes sobre a capacidade de transformar crescimento em lucro estão minando o entusiasmo dos investidores.
O mercado de títulos deixou o recado ainda mais claro. Em plena “semana clássica de corte de juros do Fed”, os rendimentos dos Treasuries de longo prazo subiram, com o yield de 10 anos avançando cerca de 5 pontos-base. Isso não é ruído — é desconfiança. O mercado não vê o corte como o início de um ciclo eficaz de estímulos, mas como um movimento defensivo diante de uma inflação persistente, déficits fiscais elevados e uma oferta crescente de dívida pública. Na prática, os investidores já estão descontando a baixa efetividade do alívio monetário.
A âncora real segue sendo a inflação. Com o IPC ainda orbitando os 3%, bem acima da meta de 2%, o debate mudou de “quando cortar” para “se cortar faz sentido”. Os próximos dados — IPC cheio, núcleo, números mensais e pedidos de auxílio-desemprego — serão decisivos para o dólar e para os ativos de risco.
Se a inflação surpreender para baixo, o Fed ganha alguma credibilidade e os mercados podem respirar. Caso contrário, o risco de um afrouxamento prematuro volta ao radar, fortalecendo o dólar, pressionando ações e ampliando a volatilidade das taxas.
Resumo do jogo: o Fed já piscou, mas o mercado não confia. Com a narrativa de IA esfriando e os juros longos resistindo à queda, os preços seguem reféns dos dados de inflação — sem tendência clara, sem complacência e com risco elevado de reversões bruscas.


